“Prenda-te , diz o alquimista, “às quatro letras do tetragrama dispostas da seguinte maneira: As letras do nome inefável estão aí, embora não possas distingui-las de início. O axioma incomunicável está cabalisticamente nele encerrado, e é isso o que os mestres chamam de mágico.”
O arcano - as quatro emanações do Âkasa, o princípio de VIDA, que é representado em sua terceira transmutação pelo Sol ardente, o olho do mundo, ou de Osíres, como os egípcios o chamavam. Um olho que vela ternamente a sua filha mais jovem, esposa, e irmã - Ísis, nossa mãe Terra. Vede o que Hermes, o mestre três vezes grande, diz a respeito dela: “Seu pai é o Sol, sua mãe é a Lua”. Ele a atrai e acaricia, e então a repele por uma força impulsora. Cabe ao estudante hermético observar seus movimentos, agarrar suas correntes sutis, guiar e dirigi-las com a ajuda do atanor, a alavanca de Arquimedes do alquimista. O que é este misterioso atanor? Pode o físico dizer-nos - ele que o vê e observa diariamente? Sim, ele o vê; mas compreende ele os caracteres secretamente cifrados traçados por um dedo divino sobre toda concha do mar na profundeza dos oceanos; sobre toda folha que treme na brisa; na estrela brilhante cujas linhas estelares não passam aos seus olhos de linhas mais ou menos luminosas de hidrogênio?
“Deus geometriza”, disse Platão. “As lei da Natureza são os pensamentos de Deus”, exclama Oërsted, há 2.000 anos. “Seus pensamentos são imutáveis”, repetia o estudante solitário da tradição hermética, “é por isso que devemos procurar a Verdade na harmonia e no equilíbrio perfeito de todas as coisas.” E assim, procedendo da unidade indivisível, ele descobre duas forças contrárias, que emanam dela, cada uma agindo sobre a outra e produzindo o equilíbrio, e as três são apenas uma, a Mônada Eterna Pitagórica. O ponto primordial é um círculo; o círculo, quadrando-se a partir dos quatro pontos cardiais, torna-se quaternário, o quadrado perfeito, tendo em cada um de seus quatro ângulos uma letra do nome mirífico, o Tetragrama sagrado. São os quatro Buddhas que vieram e passaram; a Tetraktys pitagórica - absorvida e transformada pelo único NÃO-SER eterno.
A tradição declara que sobre o cadáver de Hermes, em Hebron, um Isarim, um iniciado, descobriu a tábua conhecida como Smaragdine. Ela contém, em algumas sentenças, a essência da sabedoria hermética. Àquele que os lêem apenas com os olhos do corpo, os preceitos nada sugerirão de novo ou extraordinário, pois ela começa simplesmente por dizer que não fala de coisas fictícias, mas do que é verdadeiro e certo.
“O que está embaixo é igual ao que está em cima, e o que está em cima é semelhante ao que está embaixo para realizar os prodígios de uma coisa.
“Assim como todas as coisas foram produzidas pela mediação de um ser, de igual maneira todas as coisas foram produzidas a partir deste por adaptação.
“Seu pai é o Sol; sua mãe é a Lua.
“É a causa de toda perfeição por toda a Terra.
“Seu poder é perfeito, se ela se transforma em terra.
“Separai a terra do fogo, o sutil do grosseiro, agindo com prudência e bom senso.
“Subi com a maior sagacidade da Terra ao céu, e então descei novamente à Terra, e reuni o poder das coisas inferiores e superiores; possuireis assim a luz de todo o mundo, e toda obscuridade afastar-se-á de vós.
“Essa coisa tem mais força do que a própria força, porque ela dominará toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida.
“Por ela foi o mundo formado (...)”.
Essa coisa misteriosa é o agente universal, mágico, a Luz Astral, que, pela correlação de suas forças, fornece o alkahest, a pedra filosofal, e o elixir da vida a filosofia hermética chama-o Azoth, a alma do mundo, a virgem celeste, o grande Magnes, etc., etc. A ciência física conhece-a como “calor, luz, eletricidade e magnetismo”; mas ignorando as suas propriedades espirituais e o poder oculto contido no éter, rejeita tudo que ignora. Ela explica e retrata as formas cristalinas dos flocos de neve, suas modificações de um prisma hexagonal que produz uma infinidade de agulhas delicadas. Ela as estudou tão perfeitamente que calculou, com a mais extraordinária exatidão matemática, que todas essas agulhas divergem uma das outras por um ângulo de 60º. Pode ela dizer-nos a causa dessa “infinita variedade de formas estranhas”, cada uma das quais é um si uma figura geométrica perfeita? Essas corolas congeladas, semelhantes a estrelas e flores, podem ser, ao que supõe a ciência materialista, uma chuva de mensagens derramadas por mãos espirituais dos mundos superiores para os olhos espirituais inferiores lerem.
A cruz filosófica, as duas linhas que correm em direção opostas, a horizontal e a perpendicular, a altura e a largura, que a Divindade geometrizante divide um ponto de interseção, e que forma tanto o quaternário mágico quanto o científico, quando é inscrito no quadrado perfeito, é a base do ocultista. Em seu recinto místico repousa a chave mestra que abra a porta de toda ciência, tanto física como espiritual. Ela simboliza nossa existência humana, pois o círculo da vida circunscreve os quatro pontos da cruz, que representa sucessivamente o nascimento, a vida, a morte e a IMORTALIDADE. Tudo neste mundo é uma trindade completada pelo quaternário, e todo elemento é divisível segundo este mesmo princípio. A Filosofia pode dividir o homem ad infinitum, assim como a ciência física dividiu os quatro elementos primeiros e principais em várias dezenas de outros; ela não conseguirá modificar nenhum. Nascimento, vida e morte serão uma trindade completa apenas ao fim do ciclo. Mesmo que a ciência consiga modificar a imortalidade desejada em aniquilação, ela sempre será uma quaternário, pois Deus “geometriza”!
É um axioma hermético o de que
“a causa do esplendor e da variedade das cores mergulha profundamente nas afinidades da Natureza; existe uma aliança singular e misteriosa entre as cores e sons”.
Os cabalistas põem a sua “natureza média” em relação direta com a Luz; e o raio verdade ocupa o ponto central entre outros, sendo colocado no meio do espectro. Os sacerdotes egípcios cantavam as sete vogais com um hino dirigido a Serapis; e ao som da sétima vogal, e ao “sétimo raio” do Sol levante, a estátua de Memnon respondia. As recentes descobertas demonstram as maravilhosas propriedades da luz azul-violeta - o sétimo raio do espectro prismático, quimicamente o mais poderoso de todos, que corresponde à nota mais alta da escala musical. A teoria Rosa-cruz de que todo o universo é um instrumento musical é a doutrina pitagórica da música das esferas. Os sons e as cores são números espirituais; assim como os sete raios prismáticos procedem de um ponto do céu, do mesmo modo os sete poderes da Natureza, cada um deles um número, são as sete radiações da Unidade, o Sol espiritual central.
“Feliz aquele que compreende os números espirituais e que percebe a sua poderosa influência!”, exclama Platão. E feliz, podemos acrescentar, aquele que, percorrendo o labirinto da correlação de forças, não esquece de remontá-las ao Sol invisível!
Artigo publicado por:
Satyât nâsti paro Dharma
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