Para Eckartshausen, o visível está intimamente ligado com o invisível por Leis Eternas, pois ambos constituem uma cadeia única.
Na PURA INTELIGÊNCIA SUPREMA não há nem em cima nem embaixo, nem dentro nem fora. As reflexões de nosso autor coincidem com as de outros teósofos cristãos como Boehme, para quem os seres vivos imitam em sua estrutura o mundo astral em sua totalidade: o que está acima é como o que está embaixo. Aliás, este pensamento, que está gravado na Tábua de Esmeralda de Hermes Trismegistus, infelizmente, penso eu, às vezes é compreendido incompleta e incorretamente, tanto quanto a Lei da Retribuição. Muitas confrarias insistem em admitir a reciprocidade como punitiva ou como premiadora. Isto é mistura de ignorância com ilusão, cujo filhote só pode ser um mondrongo mental retardador!
O fato é que todas as coisas estão ligadas entre si por laços invisíveis e não evidentes. Inclusive, a coisa mais diminuta tem sua importância relativa, já que está em íntima relação com o TODO. A modificação mais ínfima pode produzir os maiores transtornos: nisto radicam a efetividade e o perigo da magia. O mundo visível – avisou Eckartshausen – com todas as suas criaturas, não é mais do que a forma exterior do mundo invisível; o exterior é a assinatura do interior... o interior trabalha constantemente para se manifestar no exterior. Os espíritos da Natureza obedecem à vontade do mago porque Macrocosmos e Microcosmos estão unidos. Tudo que está no interior, assim como a maneira em que atua, se manifesta no exterior. O homem é um Microcosmos que está em relação exata e indefectível com o ESPÍRITO DO MACROCOSMOS. Por isso, todo cuidado é pouco com atos, pensamentos e palavras. Que estejam atentos os místicos : Um piscar de olhos com intencionalidade hipotética dispara um mecanismo, muitas vezes, irreversível. Todos haveremos de aprender um dia que somos os únicos responsáveis por tudo o que nos acontece. Tanto a Divindade — ou a idéia que Dela possamos fazer — quanto o outro não são responsáveis por nossa ignorância. Ao fazermos uma opção, nos tornamos responsáveis por ela.
Toda forma é letra viva de um alfabeto; em a Natureza – reflete nosso Autor - podemos ler como em um livro aberto o Amor, a Verdade e a Sabedoria de Deus. A leitura dos símbolos elevará o buscador até as FORMAS PRIMORDIAIS desta ESCRITURA. Porém, o acesso à compreensão dos símbolos, vedado à orgulhosa inteligência, mas é, sobretudo, criado à imagem e semelhança de DEUS.
O homem está na Terra para alcançar o mais alto grau de felicidade e de perfeição possível. Porém, não no ilusório tempo, mas na Atualidade Eterna. Sem embargo, neste mundo, pode, com sacrifício, encontrar o ponto a partir do qual se extraviou.
Ensina Eckartshausen:
O homem é semelhante a um fogo concentrado e encerrado em uma envoltura grosseira; está separado do FOGO PRIMORDIAL ao qual aspira unir-se. Temos de queimar a envoltura que nos recobre de modo que este fogo não se reduza a uma simples faísca. Então, tudo aquilo que é impuro será consumido, modificará o corpo, e o fará receptivo a Deus... Esta ALQUIMIA é facilitada pelo fato de que existe, no mais recôndito da natureza física, uma substância pura que pode nos ajudar a liberar a ALMA DIVINA encerrada em nosso interior: esta substância é a essência paradisíaca que a queda [simbólica] do homem encerrou na matéria grosseira e que, desde então, enfraquece sob suas cadeias. Continua Eckartshausen: o homem é o objeto mais importante do mundo. As duas ordens de conhecimento das quais participa fazem dele semelhante a uma árvore [invertida], cuja raiz é o espírito; o tronco e os ramos, as faculdades; a folhagem, as palavras; as flores, a vontade; o fruto, a virtude. Ai da árvore que não der frutos! OEvangelho segundo Mateus (VII-16) adverte: Por seus frutos os conhecereis.
O afastamento progressivo da LUZ, ponderou Eckartshausen, resultou em ignorância, paixões, dor, miséria e morte. E o maior dos pecados que herdamos de nossos ascendentes foi o egoísmo. Apesar de nossos sentidos terem se afastado da LUZ, existe uma FORÇA luminosa que imanta nosso centro à UNIDADE. Todo o segredo consiste em saber despertá-La de um modo suave ao mesmo tempo que seguro.
Deus expressa um SOL ESPIRITUAL que (re)liga o limitado ao ilimitado. Este SOL é o órgão da O(M)nipotência; os persas o chamavam de Ormuz, os judeus, de Jehová, os gregos, de Logos. Este órgão é a Natureza I(N)mortal e Pura, a substância indestrutível que o vivifica todo e o leva [o limitado] à mais alta perfeição e felicidade; o primeiro homem foi criado – segundo Eckartshausen – a partir desta substância, que é o elemento puro. Eckartshausen falou também de um azeite de unção que renova o homem. Este azeite, que reside no âmago da matéria física, é chamado ELECTRUM, o elemento divino, o órgão ou VEHICULUM DO ESPÍRITO DE DEUS, o vestido de ouro da filha do REI. Este ELECTRUM CHARMAL ÆTHERUM é o VERBO físico e glorioso, o Corpo do Messias. Nosso autor o descreveu como um azeite verdadeiro, luminoso e incombustível: aquele que é ungido com ele, depois de uma preparação adequada, converte-se em um verdadeiro Rei e em um Sacerdote de Deus; o Espírito Santo atuará através dele e tudo lhe será ensinado. Este princípio vivifica o que está morto e potencializa a LUZ que está enterrada no interior do ente, dissolvendo o glúten do sangue.
O homem – no sentimento de Eckartshausen – é um ser caído em um mundo tenebroso, separado da LUZ original. A aceitação inteligente e humilde desta realidade é a base para vencer o orgulho que o cega, e é, paralelamente, a chave para volver a (re)encontrar o desejado estado glorioso. A oração é o primeiro passo que conduzirá o ser à regeneração.
O segredo da REGENERAÇÃO consiste em fazer desaparecer a casca que mantém prisioneiro o CORAÇÃO DIVINO: a REGENERAÇÃO é o processo místico-iniciático de construção do TEMPLO no qual Deus, a Natureza e o Homem estarão unidos para sempre. A verdadeira ciência real e sacerdotal é a ciência da REGENERAÇÃO, ou seja, a reunião de DEUS com o homem caído. A REGENERAÇÃO não se refere tão-só ao homem: abarca a Natureza inteira, que este, o homem, por ignorância, arrastou em sua queda. A Natureza aspira a sua restauração: espera com nostalgia o momento no qual a Humanidade alcançará a mais alta perfeição.
Comentários: Rodolfo Domenico Publicação original:: Paxprofundis.org
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