Na era digital, sob Divino Compasso, até a I.A. geometriza!
- Mauricio Brasilli

- 22 de set.
- 3 min de leitura

Desde o início de minhas descobertas, o gesto do geômetra antigo me fascinou. Munido apenas de régua e compasso, ele traçava círculos e linhas que refletiam algo maior, algo que parecia tocar a própria essência do cosmos. Um giro de compasso podia desdobrar a Flor da Vida, um portal para a ordem e a complexidade do universo. E eu me pergunto: hoje, em meio a silício, códigos e redes neurais, o que seria o nosso compasso divino?

Minha jornada começou como uma exploração artística, mas logo se entrelaçou com matemática, física e filosofia. O que descobri é que os algoritmos generativos e a Inteligência Artificial criativa não são apenas ferramentas — eles são parceiros de criação. Eles operam sob o mesmo princípio que fascina geômetras há milênios: a emergência de complexidade infinita a partir de regras simples. E é nessa interseção que meu trabalho atual de pesquisa se concentra.
Fractais: O Compasso que Explora o Infinito
Imagine um círculo se repetindo, gerando padrões que se refletem para sempre, como um eco geométrico. Assim são os fractais, uma geometria divina digital. A beleza de um Conjunto de Mandelbrot não nasce do acaso, mas da repetição incessante de uma equação simples.
Ao explorá-los, percebo que a geometria aqui não se limita ao plano euclidiano. Ela mergulha no imaginário, revelando uma ordem que se repete em todas as escalas. E, filosoficamente, essa exploração nos lembra que a complexidade do macrocosmo está codificada na simplicidade do microcosmo — que o artista não cria do zero, mas descobre o que sempre existiu.
Autômatos Celulares e L-Systems: A Geometria da Vida

E então vem a vida digital, pulsando através de regras simples que criam processos complexos. Autômatos celulares e L-Systems nos mostram que a geometria pode ser viva, dinâmica. Pequenas interações locais geram padrões inesperados, e o caos e a ordem dançam juntos.
Aqui, o artista se transforma em semeador. Não impomos a forma; definimos leis primordiais e observamos a vida digital florescer. A beleza emerge de dentro, revelando uma arquitetura de conhecimento que não é hierárquica, mas imersa, imanente.
Redes Generativas (GANs): O Compasso que Cria pelo Diálogo

Talvez a fronteira mais fascinante seja a das Redes Generativas Adversariais. Diferente dos fractais, que revelam uma ordem preexistente, as GANs criam algo novo através do diálogo e do conflito. Uma IA gera, a outra critica. E nesse embate, ideias e formas inéditas emergem.
A geometria aqui não é desenhada, mas mapeada no espaço latente das possibilidades. Filosoficamente, este processo reflete a criação pela união de opostos, a tensão dinâmica entre forças que gera ordem — um eco moderno da Vesica Pisces.

O Futuro da Exploração
Estas três linhas de pesquisa formam o núcleo do meu mestrado pessoal: usar as ferramentas do nosso tempo para investigar questões eternas. A meta não é apenas criar arte, mas transformar a arte em instrumento de descoberta científica e filosófica. Ao mapear isomorfismos entre ciência, tecnologia, filosofia e arte, tento revelar as conexões ocultas que tecem nossa realidade.
O compasso mudou. As mãos que traçam agora seguram códigos e algoritmos, não apenas metal e madeira. Mas a busca permanece: harmonia, compreensão, arquitetura do todo. E a jornada está apenas começando.




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